Silvio Santos: o camelô que virou ídolo nacional

Comunicador incomparável, acumulou fortuna de R$ 1,6 bilhões. O apresentador morreu na madrugada de sábado (17), aos 93 anos, em decorrência de uma broncopneumonia


19/08/2024 12h43

É pouquíssimo provável – quase impossível – que o Brasil volte a testemunhar trajetória tão fantástica e surpreendente quanto a de Silvio Santos. Morto na madrugada de sábado (17), aos 93 anos, em decorrência de uma broncopneumonia após infecção por H1N1, no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, o empresário e apresentador de TV teve uma vida capaz de colocar no chinelo até o mais criativo dos roteiristas. Ou haverá alguém capaz de considerar razoável um camelô carioca, que começou vendendo canetas no Centro do Rio de Janeiro, aos 16 anos, tornar-se um dos homens mais ricos, populares e amados do país?

Dono de carisma ímpar, Silvio Santos tinha outro talento reconhecido por todos e que o acompanharia por toda a carreira: um tino raro para o comércio. Saiu das ruas barulhentas do Rio para fundar um conglomerado que abrange marcas como SBT, Baú da Felicidade, Jequiti e Tele Sena e se tornar o que a revista Forbes chamou de “a primeira celebridade bilionária do Brasil”.

Era um homem de hábitos simples. Passava a maior parte do tempo entre o trabalho e a sua casa. Não raro, chegava à sede do SBT dirigindo o próprio carro – ele negava-se a ter motorista –, um Lincoln Town 1993. Gostava de tratar as integrantes de sua plateia por “colegas de trabalho” e fazia questão de cumprimentar todos os funcionários da emissora com os quais cruzava pelos corredores. Sempre com o sorriso que lhe era tão peculiar.

Como homem de negócios, obteve êxito em quase tudo em que colocou as mãos. Quase tudo! Diferentemente do que conseguiu fazer, por exemplo, com a marca de cosméticos Jequiti – presente em todo o território nacional, com 260 mil consultoras e valor de mercado de R$ 450 milhões –, o dono do SBT amargou um fracasso retumbante como banqueiro.

Tudo começou em fevereiro de 1969, quando o Grupo Silvio Santos assumiu o controle acionário do banco Real Sul S.A., que atuava no mercado desde 1963. De imediato, o empresário e apresentador de TV mudou o nome da companhia para Baú Financeira S.A. Em 1990, foi autorizado a atuar como banco múltiplo, batizado de PanAmericano.

Durou pouco – em se tratando de uma instituição financeira. Vinte e um ano depois, em 2011, afundado em fraudes que resultaram num rombo de mais de R$ 4 bilhões, o banco foi vendido ao BTG Pactual, por R$ 450 milhões.

Sem o banco, Silvio chegou a dizer que poderia fazer o que realmente amava: administrar o SBT. Como apresentador, era inigualável. Nos anos 1970 e 1980, chegava a passar dez horas no ar, ao vivo, com programas de sucesso, um atrás do outro. Domingo no Parque, Qual é a Música?, Show de Calouros. Era o dono dos domingos na TV brasileira.

Como gestor da emissora, a história era outra. Jamais conseguiu levar o SBT a fazer jornalismo de qualidade de forma duradoura. Alterava a programação da rede como quem comanda uma barraca de camelô. A qualquer sinal de queda de audiência em algum programa, mandava tirar e colocar episódios da série mexicana Chaves no lugar.

Nada, no entanto, afetava a admiração e o carinho que as pessoas demonstravam sentir por ele. E na madrugada deste sábado, o cidadão Senor Abravanel – nome de batismo do dono do SBT – morreu, deixando seis filhas e a mulher com quem se relacionou por 50 anos, Íris Abravanel. E é pouco provável – quase impossível – que o Brasil volte a testemunhar trajetória tão surpreendente.

Fonte: Diário do Comércio

Imagem: SBT


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